Capítulo 1: Um pouco sobre mim.

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   Sou o que a sociedade geralmente define como "incomum", pelo menos no quesito personalidade. Não sou muito alta, nem muito baixa. Meus cabelos são loiros e ultrapassam meus ombros, gosto de deixá-lo preso em um rabo-de-cavalo desleixado quando vou ao colégio, apesar da Júlia (minha mãe adotiva) dizer que ele fica horrível desse jeito, ela afirma que eu tenho que soltá-lo mais, mas eu não dou muita importância. Minhas roupas pretas e rasgadas chamam a atenção por onde eu passo, mas eu não ligo muito para o que as pessoas acham e muito menos para o que dizem. Para eles, todo mundo tem que ser "igual" a todo mundo, o que é uma grande besteira.

   Quando eu era pequena, eu tinha (e ainda tenho) medo de me apegar às pessoas, pelo simples fato de não acreditar no amor. Talvez eu desacredite por ter sido devolvida para o orfanato tantas vezes. Antes, pela minha ingenuidade, eu nunca conseguia compreender o motivo por me abandonarem tantas vezes, mas hoje eu sei, sei que é pelo meu comportamento arredio. Muitas pessoas me julgam, mas eu não ligo, ou talvez ligue, eu não sei.

   É muito fácil julgar alguma pessoa sem saber o que ela passou.

   Eu nunca me senti realmente amada. Eu já sofri tanto, mais tanto, que quando eu conto minha história para as pessoas, elas acreditam que é mentira.

   Eu fui abandonada em um orfanato chamado Santa Luz com apenas um mês de vida. Eu nunca conheci os meus pais. A diretora me disse que eu fui encontrada em frente ao orfanato enrolada em um saco de lixo. Com o passar do tempo, fui transferida para outras instituições.

   Tem um fato sobre mim que poucos sabem: Eu amo ler, é um modo que eu tenho de escapar desse mundinho besta e hipócrita em que eu infelizmente vivo.

   A minha vida nunca foi como a de uma criança normal. Eu não tenho e nunca tive nenhum amigo, ninguém nunca gostou de mim, mas eu acho que eles têm razão de não gostarem, nem eu gosto de mim na maioria das vezes.

   Quando eu era pequena, fui muito maltratada nos orfanatos em que passei, eu sempre era a que causava mais problemas. No último que estive, quando eu aprontava, sempre me trancavam em um porão sujo e escuro como castigo.

   Como eu disse, fui adotada diversas vezes e como eu era pequena, tinha a doce ilusão de que eu teria uma família: um pai, uma mãe e até irmãos, mas nenhuma dessas famílias me acolheu de verdade e é por esse motivo que eu sou desse jeito, eu clamo pela atenção que eu não tive quando pequena.

   Por ser devolvida tantas vezes, eu acabei criando dentro de mim um medo, medo de amar as pessoas que me cercam, medo de amar e ser abandonada novamente.

   Apesar de tudo o que sofri, eu não me sinto uma vítima nessa história, muito pelo contrário, tudo o que eu passei só serviu para me ajudar a ser mais forte.

Uma garota nada comum [COMPLETO - EM REVISÃO ]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora