Capítulo 1

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Londres, 16 de janeiro de 2017.

Pessoas que eu não conheço,

Eu queria tanto ser filha única, eu queria tanto ter pais normais, eu queria tanto receber carinho da minha família, eu queria fugir, eu queria ser feliz, eu queria não sofrer o tanto que eu sofro,eu queria... É eu só queria mesmo porque eu nunca vou ter nada disso, nunca vou ter a vida da maneira que eu imagino.
Um dia eu fui em um centro, um centro de umbanda, e uma mulher falou que eu ia ter muito sofrimento na vida, eu não dei muita bola afinal eu nem acredito nessas coisas, mas agora eu estou começando a acreditar, eu só tenho 16 anos e já sofro desse jeito, imagina quando eu tiver 20 ou 30, eu vou sofrer mais ainda, então eu prefiro morrer agora para evitar todo esse sofrimento. Minha mãe nunca me entende, só me critica e acha que eu sou uma criança e vou ser estrupada ou roubada a qualquer momento e ainda me faz de escrava.
Meu pai acha que eu sou uma santa, eu creio que ele quer que eu vire freira porque eu não posso chegar perto de um menino que ele briga comigo.
Meu irmão me atormenta até não poder mais. Eles me espionam, eu não tenho privacidade em casa.
O único lugar que eu tenho paz é na casa da minha avó, ela me entende e me ajuda, ela não me faz de escrava, ela não fica me espionando, ela me da conselhos, eu nunca amei tanto uma pessoa quanto eu amo minha vó.
Na escola eu sou a típica garota popular, mas tenho certeza que nenhum amigo que eu tenho é verdadeiro. São todos falsos.
A única amiga verdadeira que eu tenho é a Melissa, ela é igual a mim, sabe todos os meus segredos e me entende como ninguém, ate melhor que minha avó e ainda tem os mesmos problemas que eu, então fica mais fácil de nos entendermos.
Eu tenho que manter boas notas e não posso fazer bagunça porque se não meus pais são capazes de me espancarem. Eu pareço uma boneca que é controlada por todo mundo. Mas já estou cansada disso tudo, não aguento mais, talvez seja melhor eu fugir de casa e me virar sozinha, ou talvez eu me mate de uma vez, é até mais fácil e eu tenho certeza que ninguém vai sentir minha falta. Minha mãe mesmo fala que se eu morrer não vai derramar uma lágrima por mim.
Eu choro todas as noites, e me corto também, ninguém sabe disso só a Melissa, ela não gosta que eu faça isso mas me apóia do mesmo jeito.
Muitas pessoas criticam o ato de se cortar, mas não sabem o porque fazemos isso. Pode ser que eu não tenha problemas muito grandes, com toda certeza tem pessoas com muito mais problemas que eu, mas cada um vive no seu mundo e cada um tem um jeito de aliviar suas tristezas e angústias, e a minha maneira e de muitas outras pessoas é se cortando, esse simples ato que pode até matar alivia toda a nossa dor, estou falando das pessoas em geral, é como se toda a dor emocional que estamos sentindo fosse passada para a dor física e quando a gente está se cortando é como se tudo desaparecesse e você jogasse toda a sua angústia, tristeza, raiva, culpa ou até mesmo amor fora, no momento você não sente mais nada. Se cortar é como uma droga pode não ser pior que a cocaína ou a maconha, mas dependendo da intenção da pessoa que está se cortando pode matar muito mais rápido que qualquer outra droga.
As pessoas se cortam por vários motivos, para descontar a raiva, quando está triste e precisa desaparecer com essa tristeza, quando está apaixonado e não é correspondido, quando o cantor ou ator favorito morre, quando briga com sua amiga ou namorado, ou quando sua banda favorita acaba. São vários motivos, cada um tem seu probleminha que precisa ser descontado, algumas pessoas se cortam por prazer, sim, pelo simples prazer de sentir a dor, tem gente que se acha inútil e se corta para se punir, para mim esse é o pior tipo, não de pessoa mas sim de corte, significa e essa pessoa não tem amor próprio, que ela não sabe o seu valor no mundo. Eu acho o pior tipo porque eu me corto por esse mesmo motivo, não me acho significante, não vejo motivo para as pessoas me amarem ou gostarem de mim, com certeza eu não me orgulho disso, olho para as minhas cicatrizes e me odeio por estar acabando com a minha vida. Já tentei parar com isso, mas infelizmente não consegui, no começo me cortava fraco e só dois cortes simples que nem doía e não era fundo, agora eu me corto para morrer, é aquele corte fundo e doloroso que pode até cortar uma veia, eu sei as consequências dos meus atos e eu sei que posso morrer a qualquer momento fazendo isso, mas eu não tenho medo da morte.
Isso mesmo, eu não tenho medo de morrer, é até melhor, você não sente mais nada, não tem mais tristezas, não tem mais sofrimento, você só dorme.
Eu também não acredito nesse negócio de que se você for uma pessoa boa vai para o céu e se for uma pessoa ruim vai para o inferno, para mim quando morre acabou tudo, é como se tivesse dormindo para sempre, talvez seja por isso que eu não tenho medo da morte.
Podem me criticar, já estou acostumada com isso, talvez seja uma má ideia eu estar escrevendo essa carta para pessoas que eu nem conheço, quando minha avó me falou desse grupo de pessoas anônimas que enviam cartas umas as outras contando todas os seus sentimento eu não quis participar, eu achei horrível, não queria de jeito nenhum contar para as pessoas sobre a minha vida, mas eu resolvi arriscar, e talvez eu me arrependa de levar essa carta amanhã no correio e enviar para pessoas que posso nem fazer ideia que existem e que ainda vivem no mesmo país que eu, talvez muitas pessoas leiam e se interessam pela minha história, por isso eu decidi arriscar, mas talvez ninguém ligue e eu me arrependa de mandar essa carta, mas como eu disse já estou acostumada a ter decepções na minha vida.
Vou deixar aqui para vocês uma frase que eu gosto muito e que eu acho que tem tudo a ver com a minha vida.

" Talvez eu fui feito pra viver sozinho mesmo, afinal a vida tem só um sentido, viver e nada mais. "(Robelio Rodrigues)

Até a próxima carta

Anne

Gente como vocês perceberam essa história é sobre a vida de uma adolescente que tem muitas tristezas e quer se matar, e sim ela se corta, para quem acha tudo isso uma baboseira pare de ler, ou continue e tente entender o que uma pessoa passa para tomar a decisão de se cortar. Os capítulos serão todos escritos em forma de cartas. Espero que gostem, estou escrevendo essa história sobre a minha opinião, então por favor não critique, aceito todas as críticas construtivas sobre a escrita e tudo mais. Muito obrigado !

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