Capítulo 1

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Era noite de lua cheia quando Jess acordou assustada. A adolescente tinha sonhado que ela e os amigos Léo, Manu e Babi foram assassinados por uma pessoa sem rosto. Jess deu um grito e percebeu que o travesseiro estava molhado de suor. No sonho, antes de morrerem, Jess viu os três amigos de mãos dadas e de olhos fechados, repetindo desesperadamente frases que não faziam sentido para ela. O lugar era familiar, parecia o pátio do colégio. Alguma coisa estava errada, ela podia sentir.

As aulas estavam retornando e Jess estava ansiosa para reencontrar os amigos. Todo início de semestre, os quatro combinavam de se encontrar no pátio do colégio e compartilhavam como tinham sido suas férias. Naquele ano, Jess não tinha muito para falar. Ela ficou todos os dias em casa, na companhia da sua velha televisão, enquanto sua mãe saía para trabalhar.

Jess deitou a cabeça no travesseiro, limpou a mente e tentou descansar. Ela estava exausta, como se o sonho tivesse consumido suas energias. Não levou muito tempo para que ela apagasse.

No outro dia pela manhã, Jess acordou mais cedo do que o normal. Ela tomou um banho demorado, escolheu uma calça jeans e blusa básica, penteou os cabelos castanhos e se perfumou. Jess estava tão nervosa que não conseguiu tomar o café da manhã. Seu estômago recusava qualquer alimento.

Jess caminhou até o ponto de ônibus. Ela vivia em uma cidade pequena chamada São Cipriano, localizada numa região afastada, no sul do Brasil. O lugar era desconhecido para os moradores de outras regiões e dificilmente recebia visitantes de fora. Ninguém queria morar naquela cidade, onde os jovens amigos de Jess não se sentiam confortáveis. Nos pensamentos eles carregavam o desejo de morar em um lugar melhor. Lá não tinha nenhum atrativo turístico, nada que pudesse despertar o interesse dos outros. Havia poucas pessoas que se mudavam para lá por causa do nome, curiosos para descobrir se realmente havia algo místico em São Cipriano.

Depois de 40 minutos dentro do ônibus, lotado de estudantes com quem ela nunca havia trocado uma palavra, Jess estava na entrada do colégio São Cipriano. Ela foi a primeira dos amigos a chegar. Jess entrou e se sentou no banco do pátio. Léo surgiu com seu corpo torneado, pele negra e cabelos curtos, ele atraía a atenção de quem o olhasse. Se Jess não conhecesse Léo há anos, ela também cairia nos encantos dele. Difícil era resistir à presença e à simpatia do rapaz.

– Oi, Jess! Como você está? Não te vejo há.... – Léo fez uma pausa para se lembrar – Um mês.

– Estou ótima e você? – Jess sempre dizia que estava bem, mesmo quando não estava.

– Maravilhoso! Viajei para Nova Iorque. Foi tudo perfeito. Você não acreditaria na quantidade de meninas que eu conheci. Uma mais linda que a outra. Elas adoram brasileiros. – Depois de passar a onda de calor e tirar o sorriso bobo do rosto, Léo encarou Jess e a perguntou: – E você, se divertiu muito?

– Fiquei por aqui mesmo, mas me diverti bastante também. Nada como ter tempo para ler e assistir suas séries favoritas em paz, sem precisar se preocupar com os trabalhos do colégio – Jess se controlou para não demonstrar que suas férias foram horríveis. Preferia mentir a admitir a verdade. Sabia que muitas vezes as pessoas perguntavam sobre a vida das outras só por educação, e torciam para que nada estivesse errado e não precisassem tocar no assunto.

– Se você diz! – Léo levantou os ombros. – Eu não troco minhas viagens e gatinhas por nada. Sinceramente, não sei como você aguenta ficar tanto tempo em São Cipriano. Eu já teria enlouquecido. Essa cidade parece um maldito asilo.

Não era como se Jess tivesse a opção de viajar. Não queria dificultar as coisas para a mãe. Amanda estava sempre fazendo de tudo para agradar a filha. Ela trabalhava tanto que Jess e ela quase não se viam. Amanda não era viciada em trabalho, a mulher só não queria deixar faltar nada para Jess.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora