Capítulo 1

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            Assisti pela janela do meu quarto a última lâmpada do castelo ser apagada. Já havia decorado a ordem há bastante tempo. Marixa passava por nossos quartos com os guardas para checar como estávamos e nos desejar boa noite. A última era a lâmpada do jardim frontal. Era assim, todas as noites desde que eu me lembrava.

Normalmente, eu fecharia as cortinas do meu quarto, deitaria na cama e dormiria, pois, no dia seguinte teria um roteiro de aulas exaustivo a seguir. Esgrima, mandarim, história, etiqueta, arco e flecha, música, artes marciais, tiro ao alvo, botânica... São algumas das aulas que tenho que fazer toda semana desde que pequena.

Como herdeira do trono de Terycen, maior reino da Ordem Mundial, tenho um compromisso com meu reino. Toda a minha vida foi planejada para que eu estivesse preparada para assumir o trono e me tornar rainha.

Se você está curioso em saber, nada disso me incomoda. Na verdade, tenho sorte. Toda a pressão é aliviada pelo fato de meus pais serem tão incríveis. A maioria das princesas está sendo preparada para governar um reino ao lado de um marido. Pensamento retrógado, eu sei. Porém, meus pais sempre me ensinaram que o reino estaria em minhas mãos – não nas mãos do homem que se casasse comigo um dia – e que as minhas mãos deveriam estar preparadas para quando esse momento chegasse.

– Cheguei. – ouvi Triene sussurrar em meu comunicador.

Como falei, normalmente eu iria dormir após as luzes do castelo de apagarem. Mas hoje não.

Nunca me considerei do tipo rebelde, pois não havia contra o que se rebelar. Meus pais me conheciam bem demais para tentar me impor regras esdrúxulas como as de outros reinos. Entretanto, para minha segurança, sempre fui proibida de sair desacompanhada após o toque de recolher. Eu entendo o porquê e costumo obedecer essa regra. Só não naquela noite.

– Chego em dois minutos. – sussurrei para meu comunicador e corri para pegar meu disfarce.

Triene é minha melhor amiga desde a infância. Seu pai é o médico mais influente do reino, mas deixou sua função de lado e hoje gerência os hospitais de Terycen. Por não ser da família real, Triene tem liberdade de sair durante a noite desacompanhada e em uma dessas noites ela conheceu o Delirium.

Delirium é um bar que fica no subsolo do centro. Para entrar lá, você deve estar mascarado, pois o bar recebe todas as pessoas do reino. Quando eu digo todas, quero dizer que algumas dessas pessoas não são lá grandes cumpridoras das leis. Mas as músicas são boas, as bebidas baratas e, o melhor para mim, não fazem perguntas.

Então, há cerca de um ano, esporadicamente Triene e eu temos ido ao Delirium. Para passar despercebida, além da máscara – negra com entalhes dourados – eu também usava uma capa preta de cetim que tem um capuz grande o suficiente para tornar meu reconhecimento impossível.

Após amarrar minha máscara e minha capa, fui até a última gaveta do meu closet que fica próxima ao chão. Desencaixei-a do armário, abri novamente o pequeno esconderijo onde guardava a capa e a máscara, mas dessa vez retirei minha arma e seu coldre junto com uma pequena bolsa onde colocava dinheiro. Prendi a arma em minha cintura tendo o cuidado de travá-la e cobri-la com a saia do meu vestido, e pendurei a bolsa com o dinheiro em meu pescoço escondendo-a no decote.

Ali aquele formigamento comum percorreu meu corpo e só aumentou quando passei pela porta secreta que dava acesso a saída da lateral esquerda do jardim. Era como se naquele momento eu fosse outra pessoa. A Arissa, princesa de Terycen, estava dormindo tranquilamente em casa enquanto eu estava saindo para me divertir.

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