Doze

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Ella não se levantou de imediato.

Continuou sentada onde estava, observando Ian atentamente, como se estivesse conferindo que ainda era o mesmo, que estava inteiro e realmente ali em sua frente. Quando passou os próprios olhos sobre o verde do olhar do rapaz, sentiu a boca se alargar em um sorriso mais que saudoso. Emocionado.

No instante seguinte, estava com os dois braços e pernas pendurados no corpo dele, como se fosse um urso.

— Senti saudades, irmãozinho.

Ian não disse nada. Apertou o corpo da irmã contra si como se sua vida dependesse daquilo e apenas fechou os olhos.

— Pelo visto você também. — Ella colocou os pés no chão com cuidado e passou lentamente os braços pelo pescoço do irmão, desfazendo o abraço e pousando as duas palmas das mãos delicadamente uma de cada lado do rosto dele. — Te amo, te amo!

Ian sorriu ao ouvi-la falar a única expressão que ele entendia em português.

Te amo. — Repetiu, enquanto observava com atenção as bochechas rosadas da irmã. O batom roxo, o rabo de cavalo e a roupa justa no corpo. Tirando as bolsas um pouco escuras embaixo dos olhos, nada no jeito exuberante de Ella havia mudado. — Pode me explicar que porra você tá fazendo aqui, Cinderella? — A mulher fez careta ao ouvir seu apelido de infância, mas antes que ralhasse com ele por ter quebrado todo o clima do reencontro, um barulho alto ecoou da outra ponta da sala.

— Desculpe, eu não queria atrapalhar. — Ian juntou as sobrancelhas ao ouvir o sotaque entoado pela voz da moça que os encarava com uma expressão de puro carinho. Ela caminhou até o rapaz e estendeu sua mão: — Me chamo Ivete. Desculpe o meu inglês torto, o que sei é fruto de alguns anos de aula particular e muito treino com a sua irmã.

A primeira coisa que Ian reparou foi que Ivete era baixa. Baixa, tipo, muito baixa. Tinha o corpo robusto e o cabelo cheio de cachos estreitos que se alinhavam perfeitamente em sua cabeça como uma coroa. Bonita, ele rapidamente decidiu.

— Muito prazer. Você já deve saber, mas sou Ian.

Ivete assentiu com um sorriso largo.

— Ella fala muito de você. Acho que você é o ser humano favorito dela.

— Não posso fazer muito se sou perfeito, Eveti.

— Ivete. — A irmã o corrigiu, segurando uma risada.

— Isso. Mas afinal, — voltou o rosto novamente para Ella — o que estão fazendo aqui?

Ivete agitou-se e Ian percebeu que as mãos dela agora tremiam em nervoso. Ella rapidamente tomou uma delas para si e entrelaçou seus dedos, dirigindo um olhar carinhoso para a mulher antes de se voltar para Ian.

— Precisamos nos casar.

Onze anos atrás

O silêncio nunca estivera tão ensurdecedor na casa dos Dale.

Mesmo com quatro pessoas sentadas à mesa, a única coisa que se ouvia ali era o tilintar dos talheres contra os pratos de porcelana e o zunido das folhas que se atracavam em árvores do lado de fora. E isso estava tirando Ian do sério.

— Sabe o que eu acho? — Ele começou, deitando o garfo em cima de sua comida praticamente intacta. — Eu acho o máximo que Ella namore uma garota.

Os tilintares pararam. As folhas não batiam mais. O ar que saía das narinas de cada um estancou.

O silêncio agudo reinou até uma explosão de cacos de vidro tomar o eco das paredes e Ian piscar para entender que a mãe havia apertado o copo que estava em sua mão com tanta força que o mesmo estilhaçou, lhe fazendo um corte fundo e vermelho. Com o sangue escorrendo e o rosto lívido, a mulher não emitiu som algum ao se levantar, mas ao alcançar rapidamente um pano solto em cima da mesa e enrolá-lo rapidamente em volta de sua palma, decretou, olhando fixamente para os olhos inchados da filha:

Pedaços do CéuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora