Capítulo 2

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Porque todas as estrelas

Estão desaparecendo

Apenas tente não se preocupar

Você as verá um dia

Pegue o que você precisa

E siga seu caminho

E pare de chorar tanto

(Tradução de um trecho da música Stop Crying Your Heart Out – Oasis).


Enquanto Lyla* soava forte nos fones de ouvido, eu encarava furioso a aeromoça de mesmo nome, passando uma flanela em meu pau. Ela era bonita, franzina, mas um desastre e o molho branco em minhas calças escuras provava isso.

Ao sair do aeroporto, minha raiva se acentuou quando o taxista me olhou julgador para essa coisa branca em minhas calças. "Não, senhor, eu não esporrei". Eu poderia pegar um Uber, mas a raiva por estar aqui sofrendo com o calor cearense me fez gastar recursos a mais da empresa com táxi. Isso era idiotice, já que eu era sócio da empresa.

O hotel onde me hospedaria tinha uma faixada bonita, com coqueiros. O elevador era pequeno e quando me dirigi a ele com minha mala, uma mãe e duas crianças entraram. Um era adolescente e me ignorou tanto quanto eu a ele. A criança chorava pedindo "por favor mãe, deixa".

A mulher parecia uma socialite. Seu cabelo como fogo estava em cachos estilo anos 30 e seus óculos de sol vintage fechava o look. Em seu colo, um maldito pug estava enganchado e o mesmo cheirava o molho. Coloquei minha maleta na frente, o impedindo desse ato nojento.

Por fim, quando desceram no quarto andar, só pude suspirar aliviado. Eu estava hospedado no décimo e quando cheguei tarde, conferi minha apresentação uma última vez e tomei um banho, odiando o cheiro enjoativo de erva doce do sabonete de hotel.

Mesmo cansado, liguei para a recepção e finalizei a noite apreciando uma carne do sertão com macaxeira, para os nativos daqui, mas para mim se traduzia como carne de sol com mandioca.

💉📚🎶

Creed começou a tocar em meu telefone e, ainda com os olhos fechados, fui tateando a mão pela mesinha de cabeceira até achar o maldito aparelho. Não me leve a mal. Creed é uma das melhores bandas de rock do tempo, ainda que tenham parado, mas ser acordado assim, quando clamei por descanso, me fazia repensar meu gosto musical.

O visor marcava sete e quarenta e a foto de uma falsa loira, a qual transei algumas vezes, despontou também na tela.

— Sabe quantas horas são, Laura? – a rouquidão da minha voz poderia ser confundida com um pós-sexo, mas na verdade eram apenas as cordas vocais se acostumando também a serem usadas tão cedo.

— Querido, nunca me canso da sua voz.

Seu riso um dia me encantou, mas eu precisaria ser mais enfático na palavra amizade. Segundo o dicionário, é: "sentimento de grande afeição, simpatia, apreço entre pessoas e entidades."

Já fomos ficantes, e há meses voltamos à escala da amizade e mesmo quando haviam beijos trocados, nunca foi muito sério. Esse era o ponto que Laura tinha que entender de uma vez por todas.

Eu (não) me lembro [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora